quarta-feira, 29 de junho de 2011

Cicloviagem pela Estrada Real - Caminho dos Diamantes

 Caros amigos,

   mais uma cicloviagem realizada! Desta vez desbravamos o Caminho dos Diamantes na Estrada Real. Foram inúmeras histórias, paisagens e momentos vivenciados nestes últimos dias! Ao sentar a frente do computador para escrever o relato desta viagem fiquei imaginando com que palavras poderia descrever todas as situações, os lugares e as pessoas (assim como suas histórias de vida) que conhecemos... e são tantas as coisas para escrever que certamente este relato sairia incompleto... Para não correr este risco resolvi fazer algo mais conciso desta vez! Espero que este relato também desperte em vocês o desejo realizarem uma cicloviagem! Pedalar em meio as belezas naturais do nosso País é certamente uma experiência única que deve ser vivida pelo menos uma vez na vida!


:: O Caminho dos Diamantes ::

   O Caminho dos Diamantes na Estrada Real foi aberto originalmente por Bandeirantes a procura de pedras preciosas no século XVIII e foi oficializado como caminho real pela Coroa Portuguesa nesta mesma época. Ele interliga as cidades de Diamantina e Ouro Preto, em Minas Gerais,  passando por diversas outras cidades da região. As histórias destas cidades se confundem com a própria história do Brasil, seja por serem berço de nascimento de grandes políticos brasileiros como JK ou Afonso Pena ou ainda por conterem em seu solo inúmeras riquezas minerais que já forneceram e ainda continuam fornecendo riquezas para o país.



   Em Ouro Preto a Estrada Real se divide em outros dois caminhos, o Caminho Velho que segue até Paraty, cujo um pequeno trecho tive a oportunidade de percorrer em uma cicloviagem realizada em 2009 e o Caminho Novo que segue até o Rio de Janeiro. Com paisagens exuberantes e de tirar o fôlego (nos 2 sentidos! rsrsrs) este caminho se estende por aproximadamente 380 km cruzando o Parque Nacional da Serra do Cipó – trecho da Serra do Espinhaço que possui vegetação característica de Cerrado.

:: Dia 16 - A partida de Campinas/SP e a viagem até Diamantina ::

   Depois de muito planejamento finalmente o derradeiro dia chegou! Agora era a hora de verificar se todo o planejamento e os detalhes discutidos nos meses anteriores tinham sido suficientes para garantir uma viagem sem maiores problemas. Felizmente foi exatamente isso que aconteceu, pois realizamos uma viagem tranquila, apesar de um pouco demorada (13h) até Diamantina. 


   Durante o caminho o papo foi agradável e as piadas muito criativas! Aproveitamos a madrugada fria (8ºC) para descansar e dormir um pouco.


:: Dia 17 - Conhecendo um pouco da história em Diamantina ::

   Chegamos em Diamantina por volta das 11h e fomos procurar a nossa primeira pousada! Depois de um curto city tour encontramos uma bem no centro da cidade, perto de tudo, onde resolvemos nos hospedar. Malas desfeitas e bikes descarregadas fomos conhecer um pouco da rica história da cidade. Visitamos inúmeros locais como a praça da matriz, o Museu do Diamante a casa da Chica da Silva... 


   Como não conhecíamos a cidade pedimos muitas informações e descobrimos que um dos pontos de referência mais citados do centro histórico é a Baiúca (Point), rsrsrs


   Inclusive, adaptei um ditado muito famoso de tanto ouvir falar da tal: - "Todos os caminhos levam a Roma, mas se você errar chega na Baiúca!

:: Dia 18 - De Diamantina até Serro. No meio do caminho tinha uma montanha. Tinha uma montanha no meio do caminho ::

   Depois de um dia de turista em Diamantina finalmente iniciamos a nossa jornada através do Caminho dos Diamantes na Estrada Real. Logo antes de sair da cidade uma surpresa atrasou um pouco nossos planos. Meu alforge quebrou, provavelmente por causa do transporte no ônibus, e foi necessário recorrer a um serralheiro para consertá-lo. Felizmente encontramos um senhor muito simpático na cidade que nos ajudou nesta tarefa e, inclusive, se recusou a receber pelo serviço! Esse pessoal de Minas é muito gente boa mesmo! Aproveitamos o momento para conversar um pouco sobre a cidade e sua história... Pena que não pudemos estender um pouco mais a conversa desta vez... Mas certamente esta fica para uma próxima!

   Rodamos quase metade do trecho enfrentando subidas fortes e muita poeira até chegarmos ao rio Jequitinhonha. Aproveitamos a paisagem para descansar e tirar algumas fotos em uma formação rochosa muito bonita que margeia o rio naquele local e com as energias renovadas retomamos o caminho! Mas os quilômetros seguintes foram bem complicados... kekeke. Nesta hora lembrei até do Drummond. "...Tinha uma montanha no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma montanha..." E o pior é que o dia estava bem quente para escalar hein! Apesar disso subimos e chegamos em São Gonçalo do Rio das Pedras.

   Como faríamos todos os dias, paramos para o almoço e para descansar um pouco antes de chegar a Serro. No meio do caminho, antes de chegar a Milho Verde, uma preocupação inesperada. Nosso amigo Pedro Barreto precisou pegar carona com uma caminhonete devido a um desarranjo intestinal (olha que termo bonito Pedrão! kkkkk).


   No dia seguinte ele ainda sentiu alguns reflexos da esfirra consumida na rodoviária de São Paulo, mas felizmente conseguiu pedalar o trecho todo. A noite chegamos em Serro e encontramos uma pousada muito simpática para pernoitarmos.

:: Dia 19  - De Serro até Conceição do Mato Dentro. A romaria do Jubileu e a poeira na estrada! ::

   Acordamos cedo em Serro, tomamos café da manhã e partimos para o nosso destino do dia que era a cidade de Conceição do Mato Dentro. Novamente tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais das paisagens de Minas e dos costumes locais. Pessoalmente acredito que este foi o dia mais complicado para pedalar, pois pegamos um longo trecho de estrada de terra com poeira.



    Inclusive mudei o meu conceito de poeira depois disso! Neste dia eu fiquei tão sujo que precisei lavar o rosto 4 vezes para ele ficar limpo! Vixi! E como uma chuvinha bem leve teria ajudado a gente... Durante o caminho para Conceição pudemos acompanhar uma romaria feita a cavalo em homenagem ao Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matozinhos. 


   Já na cidade para onde olhávamos tinham cavalos! Muitos deles! Milhares deles! rsrsrs. Enfim, a cidade estava em festa por causa da comemoração que tradicionalmente ocorre todo ano entre os dias 13 e 24 de Junho que são dos dias de Santo Antônio e de São João! Na chegada a cidade paramos em uma feira para curtir um pouco o momento e para matar a sede! Depois disso fomos em busca de uma pousada para ficarmos. Felizmente, apesar da cidade estar cheia, conseguimos encontrar um lugar legal para ficar e para tomar um merecido banho!

:: Dia 20 - De Conceição do Mato Dentro até Itambé do Mato Dentro. Belas paisagens e o céu mais bonito que já vi! ::

   Fechei o dia anterior com um saldo de 2 raios quebrados.  Felizmente nosso companheiro Zwi tinha a solução para o problema! Um raio adaptado para poder ser colocado na roda sem a necessidade de retirar o disco de freio ou o cassete (catraca) me salvou! Bom, depois deste pequeno contratempo, resolvi poupar o material e evitar pedalar em pé ou forçar muito a magrelinha nas subidas...

   Neste terceiro dia de pedal encontramos novamente belas paisagens mas o melhor do dia (ops, da noite! rsrsrs) estava por vir! Pedalamos um trecho do percurso até Itambé durante a noite! 


   Quando ainda estávamos no topo da serra apagamos todos os faróis por um momento e ficamos os 3 em silêncio contemplando o céu noturno. 


   Meu, muito lindo mesmo! Pena que a gente que mora em grandes centros urbanos possa ver cenas como estas muito raramente! Foi realmente um momento muito especial da cicloviagem!

:: Dia 21 -  De Itambé do Mato Dentro até Cocais. Visita ao museu dos tropeiro em Ipoema ::

   Mais um dia, mais aventuras, mais lugares e mais um pouquinho de história!!! Entre as cidades de Itambé do Mato Dentro e Cocais encontramos Ipoema, distrito de Itabira. Neste pacato lugar visitamos o museu que mais gostei dentre todos aqueles que visitei! O Museu do Tropeiro. Lá pudemos encontrar muito sobre a história destes homens que transportavam as riquezas do Brasil no lombo das mulas! É um lugar riquíssimo tanto de história quanto em relação ao acervo de peças de época que possuem. Para quem for fazer a Estrada Real este é um dos pontos de parada obrigatórios! Vale muito a pena conhecer um pouco da história, os costumes e a vida dos homens que trilhavam a Estrada Real séculos antes de nós!

   Saindo de Ipoema em direção a Cocais observamos novamente novos trechos das Estrada Real que estão sendo pavimentados. Sobre este processo, que já tivemos a oportunidade de discutir com as pessoas durante o nosso percurso, e que inclusive já tínhamos observado em outros trechos, certamente existe pontos a favor e contra... 


   Sem entrar no mérito da questão desejo enormemente que esta estrada tão cheia de riquezas naturais e de história seja preservada pelos nossos governantes!  

:: Dia 22 - De Cocais até Catas Altas. As riquezas do passado e as do futuro ::

   No trajeto de Cocais até Catas Altas, onde pernoitamos, tivemos a oportunidade de conhecer mais uma das características da região! A extração de minérios realizadas por grandes mineradoras instaladas na região. Durante o percurso encontramos muito maquinário pesado na estrada assim como grandes extensões de linhas férreas que transportam estes minérios para serem processados nas siderúrgicas. Neste ponto não pude deixar de fazer um paralelo entre a diferenças que encontramos entre os tempos antigos, onde o homem cavava a terra com suas próprias mãos e transportava tudo isso utilizando mulas, e os tempos atuais onde as máquinas reviram a terrar e transportam milhares de toneladas de minério todos os dias!




   Depois do almoço tivemos a oportunidade de conhecer também também o Memorial Afonso Pena em Santa Bárbara, sua cidade natal. Em 1905 ele foi presidente da república tendo ocupado anteriormente vários cargos públicos... Durante a visita ao memorial lembrei-me do meu tempo de escola onde nas aulas de história somente ouvíamos falar destas pessoas que já governaram o país. Jamais pensei naquela época que iria conhecer lugares tão emblemáticos como estes que estávamos encontrando durante o percurso. 

   Em Catas Altas é possível avistar ainda o Morro do Baiano, uma formação rochosa muito alta, que o pessoal frequentemente visita para a prática do alpinismo! (Ainda bem que não tivemos que subir este também! kekeke)

:: Dia 23 - De Catas Altas até Ouro Preto. A chegada e as belezas de Ouro Preto ::

   Em nosso último dia de viagem a expectativa pela chegada foi crescendo, pois até aquele momento já tínhamos pedalado mais de 300 km pelos caminhos da Estrada Real. Neste último dia passamos por algumas cidades e alguns vilarejos sempre a presença da igrejas centenárias da região! Tirei inúmeras fotos de todas elas e não pude deixar de reparar que são sempre uma das construções mais preservadas das cidades. Certamente a igreja católica, e todas as suas tradições, ainda se mantém muito forte nestas cidades.


   Saindo de Catas altas em direção a Mariana paramos no vilarejo de Camargos, fundado em 1711, para almoçar. Lá ainda não existe uma infraestrutura preparada para o turismo mas a história de uma moradora local, na casa da qual almoçamos, nos comoveu pela sua história de vida repleta de força e dedicação a família. 



   Ela nos contou que perdeu o marido a menos de um ano e agora é responsável por cuidar de todos os filhos. Apesar de todas as dificuldades ela se mantem forte trabalhando como caseira para alguns dos proprietários da região e também está concretizando o seu sonho que é o de construir um restaurante ao lado da Estrada Real. Apesar das acomodações simples que encontramos a comida estava de primeira e não fui o único a repetir não!!! rsrsrs. Saímos de lá desejando boa sorte a ela na realização de seu sonho e certamente com mais este exemplo de determinação para nossas vidas!

   Continuamos nossa viagem e no finalzinho da tarde atingimos o trecho final do percurso! Parados em um posto na saída de Mariana estávamos a apenas 11 km do nosso destino final, a cidade de Ouro Preto! Enfrentamos bravamente os 11 km finais de subida  fazendo apenas 2 rápidas pausas para descansar. No final do top como o Sol já havia se posto, colocamos nossas jaquetas, pois o suor da subida estava deixando corpo muito frio. Vencida a subida nosso segundo desafio foi dividir com os carros, já em Ouro Preto, as ruas por onde passam apenas um veículo de cada vez... Continuamos nosso pedal pelos metros finais até a praça principal, onde se localiza o Museu da Inconfidência, onde finalmente finalizamos nossa viagem! Neste momento estava tocando bem ali na praça Carmina Burana - Carl Orff!!! 


   Não acreditei quando ouvi! Não consigo imaginar melhor música para aquele nosso momento! Foram tantos os desafios, tantas as histórias, tantos os lugares e as pessoas... Naquela hora nós três ficamos contemplando o momento e certamente imaginando o quanto é bom poder realizar os nossos sonhos ao lado dos amigos...  


[Vídeo] Estrada Real - Caminho dos diamantes




[Fotos] Estrada Real - Caminho dos diamantes




[Blog do Pedro Barreto] - Clique abaixo para acessar o relato!





:: Notas finais ::

    Bom... meu desejo era de ser bem conciso e não sei se foi desta vez que consegui né!? kekeke. De qualquer forma espero que este relato sirva de inspiração para  aqueles que também desejam realizar uma aventura como esta mas acreditam que é muito complicado ou difícil... Viajar de bike permite um maior contato com a natureza, com as pessoas e até mesmo com os momentos vividos! De carro se chega muito rápido ao destino! Conviver com amigos por uma semana enfrentando dificuldades, imprevistos mas também presenciando belos lugares e momentos felizes em meio a natureza é demais! A todos os que conhecemos durante a cicloviagem pelo Caminho dos Diamantes deixo aqui um grande abraços. Pedro e Zwi, amigos, foi um prazer e uma honra! E que venham as próximas!

Abraços, Denis Rodrigues.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Estrada Real - Ai vamos nós!!!

Atrativos que somam aventura, natureza, história e cultura dão o tom das viagens pelo Caminho dos Diamantes da Estrada Real. De Diamantina a Ouro Preto, passando pelo Serro e Conceição do Mato Dentro, o viajante percorre cerca de 350 quilômetros na companhia da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço e de suas paisagens exuberantes.


O Caminho dos Diamantes é composto por cinquenta municípios. Aberto por bandeirantes em busca de pedras preciosas, foi oficialmente criado pela Coroa Portuguesa, no século XVIII, quando o Brasil era colônia de Portugal. Redescoberto como destino turístico, substitui a aventura da busca por ouro e diamantes pela adrenalina de superar os desafios do relevo acidentado.

Com altitude média em 850 metros, o Caminho dos Diamantes abriga o Parque Nacional da Serra do Cipó – trecho da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço – e suas cachoeiras, paredões e serras que permitem atividades como canoagem, rafting, moutain bike, cavalgadas, escaladas e, claro, boas viagens de carro por estradas de terra, entre pequenas cidades e vilarejos, rica fauna e flora.

Além da Serra do Cipó, seu entorno, até Ouro Preto, conta com sete unidades de conservação. São os Parques Estaduais do Rio Preto, de Biribiri, do Itambé, da Serra da Candonga, da Serra do Rola-Moça e do Itacolomi, além do Parque Nacional das Sempre-Vivas. A paisagem do Cerrado, que marca toda a região, mescla vegetação de campos de altitude com zonas de transição para Mata Atlântica. Continua...

Fonte original: http://www.estradareal.tur.br/roteiro/caminho/1

Zwi e Pedrão, está chegando a hora!!!

Galera, aguardem o relato e as fotos da nossa cicloviagem nas próximas semanas!