quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Relato da Cicloviagem

Campos do Jordão (SP) a Paraty (RJ) - 300 Km
De 26 a 30 de Julho de 2009

Participantes: Denis, Ribas, Roni e Zwi
Relato escrito a 8 mãos...

A inspiração...
Nossa ideia de fazer uma cicloviagem surgiu de um comentário descompromissado do colega Ribas que, em um papo no pedal do Domingueiras Bike, comentou conosco que gostaria de realizar uma também. Disse ainda que havia lido um relato de um grupo que foi de Campos do Jordão a Paraty e que tinha ficado empolgado com a oportunidade de realizar uma viagem destas também. Prontamente a ideia foi aceita pelos companheiros e agora mais do que nunca amigos, Denis, Ribas, Roni e Zwi. A partir deste momento a viagem começara. Primeiro foram os preparativos iniciais e as discussões sobre a logística para a aventura e, posteriormente, com os ajuste finais nas bikes ficamos prontos. O tempo passou e a aventura finalmente chegou! Iniciamos nossa (ciclo) jornada dia 26 de Julho 2009 em Campos do Jordão e após 5 dias, e mais de 300 km pedalados pelas belas Serras da Mantiqueira e da Bocaina, chegamos em Paraty. Para compartilhar nossas experiências e emoções com os amigos escrevemos sobre alguns destes momentos!


Domingo, 26 de Julho de 2009
1º dia - Campos do Jordão (SP) à Delfim Moreira (MG)
"Céu ameaçador, frio, lama, garoa, nevoeiro e nuvens..."

Chegamos ao horto florestal de Campos do Jordão e descarregamos as bikes. Acompanhados pela euforia do início montamos nossos alforjes, colocamos os capacetes e luvas e fizemos a última revisão nas bikes. Nos despedimos de nossos colegas Anselmo e Anderson e finalmente iniciamos nossa tão esperada jornada. O tempo estava ameaçador, com chuvinha leve e intermitente, mas não nos intimidamos e iniciamos finalmente a trilha! O início foi tranquilo apesar do solo encharcado. Fomos ganhando cadência e ritmo na pedalada sempre mantendo um bom rendimento apesar das subidas que começamos a enfrentar já deste o começo. Neste ponto mal sabíamos que este tipo de terreno, com subidas e descidas intermitentes, nos acompanharia durante todo o percurso. As bikes estavam funcionando as mil maravilhas, máquinas azeitadas e obedientes às vontades de seus donos impaciente para demonstrar toda sua força ante os desafios a serem enfrentados. Para sermos mais precisos tivemos apenas alguns pequenos incidentes no princípio. O alforje do nosso colega Roni, que por ter uma bike "full suspension", tinha o seu Da esquerda para a direita: Denis, Roni, Ribas e Zwiconjunto todo acoplado no canote da bike teve que ser ajustado algumas vezes. Devido à falta de prática na regulagem deste conjunto tivemos que repetir esta operação algumas vezes mas no final tudo deu certo e o pneu parou de bater no bagageiro. Um pouco antes disso nosso grande colega nos confessou o que pensava naquele momento: "... foi quando bateu em mim um bloqueio físico-psicológico... pensei, sem apoio longe de tudo! Este é o fim da minha curta carreira de aventureiro...". Após estes primeiros e pequenos incidentes continuamos. A velocidade era baixa devido as condições do terreno e do nosso cuidado com uma condição diferente, a carga dos alforjes, que adicionava um peso extra ao conjunto bike-homem. Passamos pelo "Charco", um bairro bem afastado que, como o próprio nome diz, fica em local onde a água da chuva cai e cria poças d’água. Estas inclusive exigiram de nós um cuidado extra na pedalada além de servirem para começar a por a prova as bikes. O visual lembra bastante a Trilha da "Bocaina" em Joaquim Egídio (Distrito de Campinas/SP), são quilômetros de mata verdejante, odores e sons que aguçam nossa sensibilidade. Naquele ponto já estávamos todos deslumbrados e muito gratos pelo momento maravilhoso que estávamos desfrutando... E lembrando ainda que muito mais nos esperava nos próximos dias de aventura visto que aquele era apena o primeiro deles. Nossos colegas Roni e Denis começam a registrar estes momentos mágicos, prática que se repetiria muitas e muitas vezes durante todo o percurso. Apesar da grande quantidade de mata que nos acompanhava durante o caminho começamos a atravessar trechos degradados devido ao corte de árvores... Ficamos imaginando o que seria aquela paisagem se nenhuma das árvores estivesse no chão. Ninguém cruzava o nosso caminho, tanto pessoas como veículos, e esta situação se repetiu ainda por algum tempo.

Não tínhamos qualquer contato ou sinalização para nos indicar se o caminho estava correto. Chegamos ao asfalto depois de 35 km percorridos e seguimos a direita conforme indicação do pessoal que mora ali na localidade. Passamos a encontrar pessoas a partir daí que nos informavam sobre o caminho... Por nossa sorte aprendemos desde o início a não confiar cegamente nas informações que nos eram dadas. As pessoas que moravam por ali usavam referências da região que nem sempre eram claras para quem vem de fora como era o nosso caso. Daí a nossa necessidade de perguntar por várias vezes a mesma informação a fim de não nos perdermos... Existe até um relato divertido que nos fez analisar a informação dada por alguns instantes antes de entendê-la.... Segue o trecho: – "Vocês podem andar mais uns 10 ou 12 km até encontrarem um galho de estrada... ai virem a esquerda...". Galho de estrada? O que seria isso? Bom, nosso colega Ribas traduziu a informação para nós! Galho de estrada era uma espécie de bifurcação. Ou seja, um outro caminho que partia da estrada pela qual pedalávamos. Legal isso! Neste caminho passamos pela Pousada Lajeado e decidimos não parar para almoçar, pois assim teríamos mais pique para continuar a viagem podendo até chegar mais cedo ao nosso destino. Nessa altura já estávamos acostumados com o peso extra da bike o que nos deixou mais tranquilos. As longas subidas eram sempre seguidas de longas descidas também, o que exigia de nós atenção redobrada, pois o cansaço na subida afrouxava a atenção nas descidas e os freios poderiam demorar mais a responder... Após percorrer um bom trecho do tal "galho de estrada" perguntamos e ficamos sabendo que já estávamos bem perto de Delfim Moreira apesar de não saber ainda naquele momento onde seria a cidade. Após mais um trecho percorrido e com a ajuda dos moradores, finalmente entramos na cidade! Nela ficamos hospedados na Pousada do Daniel. Senhor muito receptivo e que se esforçou ao máximo em salamaleques e gentilezas para nos deixar a vontade. Foi lá também que tomamos o melhor banho da aventura, com água abundante e quentinha. Logo que chegamos ele ofereceu-nos inclusive um café da tarde com direito a pipoca, bolo e café que não dispensamos. Após nos refazermos deste primeiro dia começamos uma rotina que invariavelmente se repetiria por todos os outros: Descarregamos os alforjes, limpamos e verificamos as bikes nos e acomodamos em nossos quartos. No jantar conversamos bastante com o Sr. Daniel, homem muito simpático e prestativo. Ele nos contou algumas piadas e estórias de assombração com as quais tinha assustado hospedes de outros tempos. Após aquela prosa breve nos recolhemos para descansar e recuperar as energias para a jornada que nos aguardava no próximo dia...

Informações sobre o percurso

Saímos de Campinas as 03h45 em direção a Campos do Jordão, onde as 09h00, saindo do horto Florestal, iniciamos nossa jornada. Neste trajeto pedalamos 53.44 Km em 5 horas e 50 minutos a uma velocidade média de 10.6 Km/h e velocidade máxima de 42 Km/h. Chegamos ao nosso destino relativamente cedo, às 16h00. No primeiro dia a viagem exigiu de nós um bom preparo físico, pois o piso estava molhado e com alguns trechos de lama e pedra.

[Denis] Frase do dia: "...ai na frente tem mais uma descida de mineiro pessoal! (risos...)". Explicação: Todos diziam que no caminho, a partir de determinado ponto, encontraríamos apenas descidas. Doce ilusão, o que realmente encontrávamos era sempre mais e mais subida! Ufa!


Segunda, 27 de Julho.
2º dia - Delfim Moreira (MG) à Passa Quatro (MG)
"As nuvens, as cachoeiras e os morros..."

No café da manhã da pousada saboreamos uma broa deliciosa que comemos com grande satisfação. Devido ao seu tamanho nosso colega Zwi "roubou e fatiou" o pedaço que tinha sobrado, com o consentimento do Daniel é claro, para levarmos durante a viagem. Aproveitamos também para abastecer as caramanholas com a água gentilmente cedida pela pousada e partirmos, pois a jornada era longa. Voltamos um trecho até encontrar a estrada pela qual passamos na noite anterior e seguimos por ela dobrando a esquerda conforme orientados pelo Daniel.

Seguimos em direção a pousada Maeda. A trilha se apresentava muito tranquila e as dicas do Daniel foram precisas. Começamos a subir lentamente e as paisagens majestosas se descortinavam a nossa frente. Vale a pena lembrar que as bikes estavam com peso extra devido aos alforjes e que subidas que consideraríamos medianas em situações normais passaram a se apresentar como verdadeiros desafios. Neste ponto percebemos que as cidades estão sempre na base de um vale! Constatado isso chegamos a uma conclusão lógica: Todos os dias, provavelmente, ao sairmos de uma das cidades alcançaríamos o teto da região para somente daí descermos até a próxima cidade... Ao final de uma imensa subida que enfrentamos conseguimos entender pela primeira vez durante aquela nossa viagem porque ela realmente valia a pena. Até aquele ponto tínhamos visto muitos lugares bonitos, mas nenhum deles se comparava ao que conseguíamos presenciar naquele momento. Ao chegar a um ponto bem no cume da montanha conseguimos visualizar um mirante de onde era possível perceber toda a grandiosidade da NATUREZA (que grafo aqui em letras maiúsculas na tentativa de expressar, mesmo que de maneira incompleta, a nossa mais profunda admiração!). Deste ponto foi possível avistar ao mesmo tempo tanto o céu azul quanto um manto de nuvens até o horizonte que, neste ponto, estavam bem abaixo de nossos pés. Somente estando lá, naquele momento, para entender o que sentimos. Após paramos para as fotos continuamos nossa pedalada até chegarmos ao sítio do Cachoeirão onde fica a Cachoeira do Padre. O local tem esse nome porque os antigos proprietários tinham "padre" como sobrenome e não porque este lugar em algum momento no passado tenha tido alguma ligação com a igreja... Ao chegar lá ficamos discutindo se valeria à pena parar e almoçar, pois o lugar a primeira vista nos enganou... Esperávamos um local que segundo acreditávamos seria uma pousada não uma casinha modesta lá no alto do morro... Resolvemos entrar e fomos recepcionados pelo Marcelo, um simpático garoto de 10 anos, que foi logo nos avisando: - "meu vô cobra R$ 1,00 real por pessoa para entrar no sítio", argumentamos com ele que a intenção era não só entrar mas como almoçar também! Ao chegar lá em cima vimos a nossa direita uma pequena queda d’água imaginando tratar-se da famosa "Cachoeira do Padre"...
Apesar de nossa sensação de "entramos numa furada" permanecemos no local para nossa sorte como viríamos a reconhecer no final... Neste lugar tivemos o prazer de conhecer o Sr. Jair e sua esposa, Dona Bárbara, que nos informou que não tinha almoço pronto, mas poderia preparar um rapidinho se quiséssemos. Perguntamos como era "o rapidinho" dela já que a comida seria preparada no fogão lenha? Após discutirmos um pouco resolvemos ariscar... Enquanto esperávamos formos informados que a cachoeira vista a pouco não era a cachoeira do Padre. Foi ai que nosso guia nos levou para conhecer as quedas d’água. Chegamos até a primeira subindo no meio do mato pela encosta e, depois de apreciá-la um bom tempo e de fotografá-la muito, o Marcelo comentou que havia uma outra ainda maior! Ficamos curiosos e fomos de novo subindo pela encosta rumo a segunda cachoeira. Chegando lá constatamos que a informação realmente se confirmava! A cachoeira era maior e muito bonita que a primeira e daí mais fotos! Tivemos a oportunidade de ver ainda uma terceira cachoeira muito bonita. Esta última tinha uma queda d’água que era absurdamente grande, assim como a sua vazão de água. Existia no lugar até um mini arco íris formado pelas gotículas de água em suspensão. Chegada a hora de descer para o almoço nos despedimos das cachoeiras e retornamos para a sede do sítio. Chegando lá verificamos que Dona Bárbara tinha nos presenteado com um belo e inesquecível almoço: Salada de alface, arroz, farofa e truta frita! Além de nos deliciarmos com esta divina refeição ainda foi possível conhecer uma criação de trutas, pois o sítio é também um criadouro delas!
Neste momento conseguimos entender o que teríamos perdido se tivéssemos nos deixado levar pelas primeiras impressões e tivéssemos passado direto por aquele lugar. Sorte que não o fizemos! Após almoçarmos nos despedimos e continuamos o caminho e, como nem só de louros são construídas as vitórias, nos deparamos com as 2 subidas mais difíceis da viagem! Tivemos que empurrar as bikes ladeira acima em uma trilha que certamente somente um carro 4x4 subiria! Além do barro as subidas eram muito acentuadas nos forçando a parar várias vezes para respirar um pouco. O refrão "seeeguuura nas mãos de deusss... eeee vaiiii" certamente nos ajudou bastante naquele momento. Como não tínhamos certeza do caminho tivemos que parar duas vezes para nos localizarmos. Na primeira bifurcação que encontramos utilizamos o relato dos colegas que tinham realizado a viagem anteriormente e identificamos o caminho correto. Na segunda delas tivemos a sorte de contar com a ajuda providencial de um morador lá no topo da montanha. Ele saiu de uma casa que parecia abandonada e nos informou sobre que direção tomar. A partir daí descemos muito, "freios para que te quero!", sempre presenciando bonitas paisagens. No céu uma disputa entre o sol e as nuvens nos deixava indecisos sobre como seria o final da tarde... As condições da trilha nos trouxeram uma reflexão sobre a importância dos equipamentos: pneus, luvas, revisão, faróis, freios... tudo tinha que funcionar em harmonia para que continuássemos enfrentando o caminho bem. Quanto a nossa parte, guiávamos com cuidado evitando buracos o barro em excesso. Passando pelo bairro do Pinheirinho confirmaram que estávamos na direção certa e nos informaram que "agora só tinha descida". Como viríamos a confirmar o pessoal do campo não é lá muito bom com este negócio de altimetria, pois ainda enfrentaríamos algumas boas subidas... Após mais algum tempo pedalando encontramos um caminho muito famoso pelo qual seguiríamos por grande parte de nossa jornada. Aquela seria a primeira vez que pedalaríamos pela "Estrada Real". Após mais algum tempo de trecho, e com a ajuda dos faróis pois já estava escuro, chegamos finalmente na Pousada Verde onde fomos recepcionados novamente por gente que se esforça muito para ser amável. Recebemos a chave de um chalé onde ficaríamos e desembarcamos novamente as tralhas. Após um belo banho fomos jantar e encontramos o Sr. Paulo, um dos donos do lugar. Ele que nos deu uma aula sobre a arte de como reconhecer uma boa pinga, com direito a degustação inclusive. Após o jantar nos recolhemos para o merecido descanso.


Informações sobre o percurso

Saímos as 09h00 de Delfim Moreira com destino a Passa Quatro onde chegamos já ao anoitecer (18h50). O trajeto foi de 63 Km percorridos em 5 horas e 17 minutos a uma velocidade média de 11.9Km. O dia foi extremamente cansativo, com muitas e muitas subidas, onde em várias oportunidades tivemos que empurrar as bikes morro acima. Todo o esforço e sacrifício foram compensados por um belo visual que contemplamos pelo percurso inteiro. Em Passa Quatro nos hospedamos na Pousada Verde que é de excelente qualidade. Recomendamos! Neste trajeto tivemos dois pequenos tombos! Os dois orquestrados pelo nosso grande amigo Roni!

Frase do dia

[Roni] "...Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh...". Explicação: "...nesse dia chegamos a uma altitude de quase 2000 metros e nesse ponto tive uma das melhores sensações da minha vida, me senti um guerreiro que após vencer a batalha levanta a espada e solta o grito ensurdecedor de desabafo..."


Terça, 28 de Julho.
3º dia - Passa Quatro (MG) - Silveiras (SP)
"O longo túnel, a chuva ao chegar e o jantar..."

Depois de um café da manhã com muita fruta e quitutes dignos de um grande hotel saímos do refeitório quase grávidos de tanto comer. Naquele momento recebemos a ligação do nosso amigo Martelli que estava em Campinas/SP e nos desejou uma boa viagem. Fizemos ainda uma parada estratégica em um posto para calibrar os pneus e partimos felizes e motivados para mais um dia. Voltamos em direção ao bairro Pinheirinho e, a partir de lá, acabamos percorrendo um bom trecho pelo asfalto. Enquanto vencíamos a subida pelo acostamento víamos uma trilha que acompanhava a linha do trem lá embaixo e nos deu uma baita vontade de alcançá-la. Principalmente porque a estrada na qual estávamos era muito movimentada e não possuía acostamento. Foi neste ponto que chegamos a um posto e perguntamos como chegar a trilha que nos acompanhava a tempos... Para nossa surpresa fomos informados que bastava descer por uma caminho que saia ali mesmo do posto para alcançar a linha do trem. Logo ao alcançarmos o nosso objetivo nos deparamos com a entrada de um longo túnel logo a nossa frente. Não sabemos precisar com certeza a sua extensão mas olhando de um dos lados não era possível ver a saída lá do outro... Existe até um trem turístico que vai até ele nos finais de semana para um passeio com turistas. Atravessamos o túnel sem maiores complicações, uns com mais coragem e outros nem tanto (risos), e chegamos ao outro lado. Lá encontramos um trecho totalmente abandonado com uma trilha estreita, cheia de galhos e pedras que nos impediu de pedalar. Por isso preferimos percorrer aquele trecho a pé para evitar qualquer problema com as bikes ou algum tombo. No final deste trecho nos deparamos com uma bifurcação onde, após consultar o relato que sempre levávamos conosco, identificamos que o caminho correto a seguir seria pela direita (sítios do túnel). Para a nossa surpresa chegamos novamente a um trecho da Estrada Real. Sem ter certeza sobre o caminho, mas sem opção de voltar, seguimos em frente. Após mais alguns minutos de pedaladas encontramos placas que nos informaram que o caminho tomado estava correto e continuamos em frente. Ao encontrar o asfalto seguimos a esquerda em direção a cidade de Cruzeiro, nossa rota até Silveiras. Fizemos este trecho em boa velocidade devido as boas condições do asfalto e do acostamento. Durante o caminho decidimos parar e almoçar pois não tínhamos certeza do esforço que ainda nos seria exigido até completarmos a nossa jornada do dia. Almoçamos truta novamente acompanhada de batata frita e Coca-Cola. No final ainda tivemos o prazer de saborear um cafezinho com biscoitos amanteigados oferecidos pelo nosso companheiro Ribas. Após esta breve pausa seguimos em frente até Cruzeiro. Logo na entrada da cidade fomos parados por dois companheiros que passavam de carro. Conversando com eles ficamos sabendo que também pedalam e tem inclusive uma agência que organiza pedais pela região! Ao nos verem eles ficaram curiosos sobre nós e nos pararam para conversar. Trocamos e-mails com promessas de organizarmos alguma aventura juntos no futuro. Continuando o caminho para Silveiras passamos ainda pelo santuário da santa cabeça (criado em devoção a cabeça de uma santa encontrada no rio Tiete por volta do anos de 1885) e aproveitamos para nos reabastecermos de água, que dizem, inclusive, ter poderes terapêuticos. Seguimos pedalando com o corpo já pedindo descanso até atingir o nosso objetivo final. Já na entrada de Silveiras decidimos parar em um ateliê onde era possível tomar café espresso (com S) aproveitando também para admirar as obras de arte expostas no local. Depois de andar um pouco o local e de saborear o expresso fomos em direção a pousada Real. Para a nossa sorte conseguimos chegar até lá minutos antes de uma forte chuva que desabou sobre a região. Chegamos, cumprimos os procedimentos que já estávamos acostumados, e após isto nosso amigo Felipe, dono da pousada, confirmou o nosso jantar em um restaurante da cidade: O Restaurante do Sr. Ocílio. Como a fome não esperava e aproveitando uma providencial carona, gentilmente cedida pelo nosso anfitrião, fomos até lá. Chegando no restaurante fomos gentilmente recebidos pelo proprietário, o Sr. Ocílio. O local é simples e aconchegante, com decoração lembrando objetos de uso do Brasil rural, coisa da terra, que nos fazem voltar ao tempo onde as grandes obras eram tocadas por escravos e as grandes viagens em terra eram feitas por tropeiros. Após nos acomodarmos começamos a ser servidos por um dos funcionários do local, o Sr. Eugênio, misto de maitre e garçon, que inundou a mesa com uma quantidade inimaginável de pratos! O jantar teve início com uma travessa de salada, depois veio o arroz, o feijão, a farofa, as carnes, o torresmo e já não havia lugar na mesa para tanta comida. Pudemos saborear carne com pinhão, frango caipira e um feijão muito saboroso. Convidamos o Sr. Ocílio para nos acompanhar na conversa, pois o restaurante estava aberto apenas para nós. Devagarinho o Sr. Ocílio foi se achegando e começou a conversar conosco. Ficamos sabendo então um pouco a respeito de sua vida. Ele era formado em sociologia, neto de tropeiros e um profundo conhecedor da cultura local! Nos deu uma verdadeira aula de história sobre aquela região. A conversa era tão boa que mal vimos o tempo passar! Fez questão ainda de nos apresentar a Dona Maria, senhora muito tímida, que preparou o nosso delicioso jantar com muito esmero. Apesar do ambiente agradável não nos demoramos muito após isto pois ao amanhecer teríamos outro dia de pedal pela frente.

Informações sobre o percurso

Saímos de Passa Quatro (MG) as 08h40, com destino a Silveiras (SP) onde chegamos as 17 horas e 50 minutos bem antes de cair um temporal. O trajeto foi de 70,40 km cumprido em 4 horas e 52minutos a uma velocidade média de 14,4 Km/h e máxima de 52 Km/h. Saímos de Passa Quatro pelo asfalto (rodovia estadual) onde após alguns quilômetros acessamos uma estrada de terra (Estrada Real) onde passamos pelo Túnel da linha férrea até chegar ao asfalto. A rodovia nos levou até a cidade de Cruzeiro, onde almoçamos, e depois a Silveiras onde pernoitamos na Pousada Estrada Real.

Frase do dia

[Sr. Ocílio] "...vocês são os tropeiros do século 21...". Explicação: Neste dia durante o jantar tivemos a oportunidade de encontrar o Sr. Ocílio, dono do restaurante onde jantamos e secretário de turismo de Piquete, que ao saber de nossa viagem e recordar a sua própria ancestralidade nos disse a frase acima.


Quarta, 29 de Julho.
4º - Silveiras (SP) - Campos de Cunha (distrito de Cunha - SP)
"A Serra, as paisagens espetaculares, os bloquetes e cachoeira..."

Acordamos as 6H45. A chuva da noite anterior tinha limpado o céu, uma leve brisa da manhã soprava. Ficamos animados, pois as condições climáticas eram propícias para o dia render bastante. Saímos cedo, passamos em uma padaria para nos reabastecer e seguimos pelo caminho que nos foi orientado. A situação de estrada se repetiu, asfalto médio sem acostamento e com poucos veículos. Seguimos então por uma sucessão de subidas e descidas que exigiram de nós além de força muito apoio moral mútuo. Em uma das subidas pedalamos nada menos que 12 km morro acima e de lá, bem perto da nuvens, fomos recompensados por mais uma bela visão da região. Passamos pelo bairro Bom Jesus e posteriormente pelo bairro dos Macacos onde paramos para fazer um lanche. Neste ponto ainda tínhamos a expectativa de, quem sabe, pedalar até Cunha naquele mesmo dia. Tudo iria depender das condições encontradas durante o percurso. Mal sabíamos o que nos esperava. Os moradores nos alertaram sobre as subidas, mas disseram para não nos preocuparmos pois nos pontos mais íngremes a trilha era pavimentada com bloquetes. As subidas e descidas se sucediam a cada quilômetro pondo a prova nossa determinação e exigindo muito das bikes e de nós. Neste ponto nosso companheiro Denis, que sentia menos o peso da viagem até aquele momento, pedalava à frente. Isto nos motivava a não perder a determinação pois, ao vê-lo mais acima, sabíamos que as subidas não eram impossíveis de serem vencidas! Apesar do desafio dos bloquetes as paisagens compensavam o esforço. O contraste entre o verde das matas e o azul do céu nos revigorava e fazia com que nos sentirmos melhores. Pedalar por aquele lugar e observar aquelas paisagens era uma oportunidade única que a maioria das pessoas talvez nunca viesse a conhecer. Continuando pelo caminho fomos agraciados com uma bela visão da cachoeira de Paraitinga e, como era de se esperar, não nos fizemos de rogados! Vencemos uma cerca de arame farpado e fomos nos refrescar em suas águas. A água gelada ofereceu um precioso alívio para a musculatura já cansada de tantas subidas. Aproveitamos para descansar um pouco enquanto admirávamos a paisagem e depois partimos. Mais a frente, quase chegando em Campos Novos de Cunha encontramos uma descida nos deixou apreensivos tamanho era o seu declive! Não foi difícil descê-la a mais de 50 km/h com os freios acionados ao máximo... Neste ponto mais uma vez pudemos contar com o nosso equipamento e com a experiência acumulada nos anos de pedal. Após isto finalmente chegamos a cidade e localizamos a Pousada Vitória, local onde iríamos pernoitar naquele dia. Não podemos esconder que o local nos decepcionou e, por isso, não o recomendaremos para os próximos aventureiros! Devido à umidade dos quarto o nosso companheiro Roni foi obrigado a encontrar outro lugar para dormir a noite. Apesar das acomodações que não nos agradava não nos deixamos abater e fomos perambular pela cidade visto que chegamos cedo ao nosso destino. Aproveitamos para conhecer então algumas outras opções de pousadas na cidade nas quais, quem sabe, poderemos vir a nos hospedar em uma viagem futura. Depois de algum tempo andando voltamos para a pousada e jantamos. Após isto nos recolhemos e fomos dormir pois no dia seguinte o pedal seria longo.


Informações sobre o percurso

Saímos de Silveiras as 08h40 com destino ao distrito de Campos Novos de Cunha onde chegamos por volta de 14h50 sob ameaça de um forte temporal. Sobre este pudemos constatar os estragos na manhã seguinte... Este percurso foi o mais curto (apenas 38,49 Km) e foi percorrido em 03 horas e 28 minutos a uma velocidade média de 11 Km/h e máxima de 48 Km/h. Apesar disso não foi menos cansativo pois encontramos muitas subidas (e bota subida nisso) em um misto de asfalto, bloquetes e terra. Neste trajeto pudemos observar ainda a bela cachoeira do Paraitinga onde nos refrescamos. Após isto pedalamos por mais alguns quilômetros e chegamos ao nosso destino.

Frase do dia

[Ribas] "...quanto melhor pior...". Explicação: Durante as subidas no asfalto (serra) e nas subidas de bloquete (trilha), onde a nossa determinação era testada a todo o momento, nosso companheiro Ribas soltava sua já conhecida frase para nos estimular a continuar sempre. Esta frase, por sua vez, tornou-se o lema da viagem!


Quinta, 30 de Julho.
5º - Campos de Cunha (distrito de Cunha - SP) - Paraty (RJ)
"...Primeiro subindo e depois descendo, a estrada deserta e o mar de lama..."

Deixamos a pousada às 7H37 após tomarmos o nosso merecido café da manhã. Fizemos uma parada rápida no mercado para a compra de provisões e partimos. Passamos pela simpática igrejinha toda pintada de azul e deixamos Campos Novos de Cunha para trás. Este seria o dia no qual pedalaríamos a maior distância e após quatro dias de muito esforço estávamos um pouco apreensivos quanto a isso. O Sol raiando, poucas nuvens e a temperatura agradável (pelo menos no princípio) nos motivaram bastante no início. Como já esperávamos começamos a subir mais uma vez em direção ao teto da região. Tivemos oportunidade novamente de presenciar uma visão bela da região mas algo que vimos nos preocupou. A nossa direita o céu estava todo coberto por nuvens carregadas e a esquerda tínhamos o céu limpo com poucas nuvens... Ficava então a dúvida de qual seria o cenário ao longo do dia, qual dos dois climas iria prevalecer e dominar a situação? Pedalando, conversando e cantando conseguimos vencer os quilômetros que nos separavam de Cunha. Tivemos a oportunidade inclusive de ver quão acertada foi a nossa decisão da noite anterior em não continuar nossa jornada e dormir em Campos Novos, pois encontramos na estrada inúmeros galhos de árvores que o vento e a chuva da noite passada tinham derrubado sobre a pista. Chegamos em Cunha as 10H30. Paramos em uma das padarias da cidade para um lanche rápido e nos informamos novamente sobre a direção a tomar para chegarmos em Paraty. Apesar de já estar repetitivo, novamente, pegamos uma subidaça! E como esta era a última saindo de uma cidade foi caprichada! Foi certamente uma das maiores! Após vencê-la continuamos pedalando. Passou-se mais algum tempo e o clima começou a mudar. O vento frio nos obrigou a utilizar agasalhos até então guardados. As nuvens carregadas tomando conta do céu e um misto de neblina e garoa fininha deixaram o clima gelado. Pedalamos por mais de 35 quilômetros através de uma estrada de asfalto muito bom e praticamente deserta. Explicando, entre Cunha e Paraty existe uma serra na qual ocorreram quedas de barreira impedindo o trânsito dos veículos. Desta forma somente motos e bikes conseguem fazer a travessia entre as cidades por aquele caminho. Após este trecho de asfalto plano e bikes limpas chegamos finalmente a divisa entre os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Exatamente neste ponto a garoa apertou e começou a chover! Colocamos imediatamente as nossas capas de chuva e entramos finalmente no trecho de serra. Neste ponto tivemos uma surpresa interessante, apesar de todos esperarem muito barro o que encontramos foram verdadeiros rios de lama! Em muitos pontos as bikes comportavam-se de uma das duas formas, ou andavam de lado ou quase paravam atoladas no barro! Como resultado disso, na metade da descida, nosso companheiro Denis ficou sem freios e foi acompanhado, um pouco mais a
frente, pelo Zwi. Como não adiantava reclamar os dois desceram empurrando as bikes por alguns quilômetros até que encontrassem um trecho plano que permitisse pedalar sem freios. Durante a descida foi possível encontrar algumas máquinas trabalhando para consertar os estragos provocados pelas chuvas anteriores. Pudemos observar muitas rochas que se desprenderam dos pontos mais altos da serra, algumas delas do tamanho de um prédio, que cortaram a estrada como faca quente na manteiga. Realmente muito impressionante! O trecho com barro nos acompanhou por mais ou menos 10 km e foi um desafio vencermos aquelas duras condições da trilha com chuva e frio. Mas no final conseguimos. Chegamos finalmente ao trecho com asfalto, que apesar de ainda impedido, propiciava melhores condições de solo o que foi um alívio. Após descermos mais um pouco chegamos finalmente a um trecho plano no qual nossos companheiros puderam novamente pedalar. Mais a frente encontramos uma ciclovia que nos direcionaria para Paraty e seguimos por ela até o cruzamento com a rodovia Rio-Santos. Alcançamos a partir daí o centro de Paraty! O destino sonhado e almejado durante cinco dias foi finalmente conquistado! A alegria foi geral apesar do nosso cansaço. Cada um de nós começou a refletir a respeito de todas as coisas vivenciadas nos dias anteriores e ficamos muito felizes. Realmente tinha valido a pena! Passadas estas considerações continuamos por mais um quilômetro e chegamos a Pousada Canoas. Lá encontramos novamente nosso grande amigo Anselmo e sua esposa que tinham vindo a Paraty para nos buscar. Chegamos, nos acomodarmos e depois de um belo banho resolvemos sair para comemorar. Apesar da garoa fininha que caia sobre a cidade não desanimamos e fomos a um restaurante. Lá ficamos relembrando, já com saudades, as muitas aventuras enfrentadas, as paisagens observadas, as pessoas conhecidas e as frases ditas... Enfim, relembramos tudo que fez esta viagem inesquecível para nós. Na sexta retornamos para Campinas já planejando a próxima ciclo aventura, que, certamente, iremos compartilhar com todos em algum tempo no futuro!

Frase do dia

(Zwi): "...os moradores desta cidade devem ser todos alpinistas!". Explicação: A frase sintetizou com perfeição o nosso sentimento ao deixar a cidade de Cunha em direção a Paraty pois a subida foi brava, acreditem!


Saímos de Campos Novos as 07h40 e chegamos em Paraty as 18h10. O total percorrido foi de 76,07 Km em 6 horas e 42 minutos a uma velocidade média de 11,3 Km/h e máxima de 61 Km/h. Em Cunha (28,17 Km) chegamos por volta de 10h50 e fizemos um lanche. Neste percurso, quase todo percorrido em asfalto, além das subidas as paisagens também nos tiraram o fôlego. Já no Estado do Rio de Janeiro, a estrada (serra) apresenta 9 km de um terreno em estado lastimável. Enfrentamos muita lama e pedras durante a descida. No caminho encontramos pessoas que utilizam a rodovia e sofrem com o descaso político todo dia. Apesar do problema com os freios conseguimos chegar em Paraty antes de anoitecer e nos sentimos recompensados pela oportunidade de ter feito aquela aventura.


Comentários finais...
Nós todos, Denis, Ribas, Roni e Zwi, agradecemos as pessoas que nos apoiaram durante o planejamento e execução da aventura e, em especial, ao grupo denominado Tiozinhos Super Poderosos pela inspiração e pelo relato. A estas mesmas pessoas, por todo o seu apoio, deixamos a frase abaixo na esperança de expressar a nossa gratidão...

Atualização (09/05/2011)

   Pessoal, cliquem nas imagens abaixo para visualizarem as informações de de distância e altimetria da cicloviagem. Gostaria de agradecer ao colega Kleber Victorino, que fez a viagem com um grupo de colegas antes de nós, pelos dados de GPS. Valeu Kleber!

De Campos do Jordão/SP a Delfim Moreira/MG
De Delfim Moreira/MG a Passa Quatro/MG
De Passa Quatro/MG a Silveiras/SP
De Silveiras/SP a Campos Novos de Cunha/SP
De Campos Novos de Cunha/SP a Cunha/SP
De Cunha/SP a Paraty/RJ


"O prazer do banquete não está nos pratos, mas sim nos amigos com os quais podemos compartilhar a mesa"

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